terça-feira, janeiro 31

beleza pura

Que delicadeza ( Deus-meu!) pode ter uma mulher-de-olhos-de-amendoas-doces, quando se transforma em flor-de-lotus, que cai em desenhos de bailarina a dormir no sonho.

segunda-feira, janeiro 30

paleta de sons

A musica tem cor! dizem os percebidos-com-ambições-a-mestre-com-perfil-de-maestro .
Eu, sou-um-meio-cego-nas-escritas-do-som e apenas me maravilho com o que me entra sem pedir licença, pelo corpo e pelo sentir, mas desde hoje que me ponho a adivinhar melodias quando me perco nos amarelos e nos azuis... ( há que ir com calma e não avançar de atropelos de homem-sedento-perdido-no-deserto, para o arco-iris inteiro).

sexta-feira, janeiro 27

(a)correntado

Resposta a uma corrente enviada pela Sara à qual não dei seguimento ( irrequietudes de não simpatizar com correntes…)

Há 10 anos...
1. dez anos é uma eternidade nos labirintos de uma memória desorientada, sei que andava por aí a fingir-me vivo, imergido em 15 horas de trabalho por dia
2. sentia-me mal dentro de mim
3. comecei a revisitar um menino meio perdido que se escondia nas sombras

Há 5 anos...
1. mudei de vida e de prioridades, comecei a sentir o olhar e as cores
2. completei uma colecção de banda desenhada “ O cavaleiro Andante” e senti-me dono de um tesouro
3. descobri a cor de papoila-que-acorda-nas-madrugadas, e passei a usá-la no desenho das palavras, e em TODOS

Há 2 anos...
1. deixei de fumar, de um dia para o outro. zanguei-me ferozmente com os cigarros. ainda hoje não nos falamos
2. comecei a gravar os sonhos num moleskine ( vaidades que sabem bem)
3. perdi de vez a esperança de me dar bem com a minha memória e optei por me deslizar no destempo

Há 1 ano...
1. percebi que sonhar fere mais que uma lâmina afiada
2. decidi voltar a África o mais tardar dentro de três anos
3. reinventei um azul-lágrima que uso sempre que me sinto gaivota

Ontem...
1. reli o primeiro volume de Dias Comuns de José Gomes Ferreira
2. suei para chegar ao fim do dia com um enorme sorriso de satisfação
3. não me lembro de ter adormecido, coisa rara e para relembrar, pois acompanha-me uma insónia crónica que me inquieta as noites

Hoje...
1. zanguei-me com a almofada, tentou mandriar-me, com conselhos desonestos
2. estou com trabalho até à ponta dos cabelos
3. faltei ao prometido a mim mesmo de não voltar a responder a cadeias deste tipo, mas como foi pedido com carinho aqui fica. não vou no entanto endereçá-lo. fica por aqui a pairar…

Amanhã...
1. como dizia o poeta ( José Gomes Ferreira) todos os futuros são patetas, mesmo aqueles que quase nos entram pela janela, como esses que são já amanhã ( isto digo eu , que o não sou…poeta)
2. vou a Lisboa, como se isso fosse importante, mas no meu caso sabe sempre bem olhar raízes
3. só tenho dois pontos para amanhã, os outros cabem todos no maravilhar do imprevisto

Cinco coisas sem as quais não consigo viver:
1. tempo, preciso desesperadamente dele para me sentir senhor dos meus próprios passos
2. do mercado das cores, de cores frescas todos os dias
3. de uma dose diária de solidão
4. de sentir que pertenço a uma família
5. sem horizonte, nem que seja desenhado. Ando sempre com essa linha difusa diante do olhar

Cinco coisas que compraria com 1000 euros:
1. completava a 4ª série do Mundo de Aventuras ( banda desenhada)
2. completava a 3ª série do Mundo de Aventuras ( banda desenhada)
3. já não restava grande coisa
4. já não restava grande coisa
5. já não restava grande coisa

Cinco maus hábitos que tenho:
1. não tenho hábitos, detesto rotinas, atropelo todas as rotinas …tenho o hábito de atropelar rotinas…
2. ( mas defeitos tenho muitos…..ehehehehe)
3.
4.
5.
Três coisas que me metem medo:
1. confesso que é coisa que aprendi a não ter, a partir do momento que me desinteressei de pensar na Morte
2. respeito o MAR
3. e o Ar, quando me voo

Três coisas que tenho vestidas:
1. gravata azul escura
2. camisa azul clara
3. calça azul escura

Três coisas que quero mesmo muito neste instante:
1. acabar esta coisa
2. iniciar a reunião que me espera
3. beber um café

Três lugares que gostava de visitar:
1. nuveares.
2. ano 33 dc
3. a nau perdida que acostou terras de santa cruz antes de 1500…

telas pintadas com olhares

A terra pintou-se de amarelos ( raízes de sol, azedas de verdes!)

quinta-feira, janeiro 26

abismos, quase breves...leves

As palavras tem uma profundidade-de-abismo que incomoda, porém quando recriadas e adocicadas com fantasia, desenham-se bailarinas , numa quase melodia, numa quase poesia que enlouquece-em-sorrisos-leves quem as bebe em tragos breves…

quarta-feira, janeiro 25

construções


( fotografia de Patricia Sucena de Almeida)


construo-me com olhares, são eles os meus tijolos, "umporum", alinhados em labirintos d'horizonte...
( o horizonte é a minha verticalidade. é o meu pedaço de sonho que me tece e enlaça no céu e na terra, num cruzamento de um ponto de partida , para um mergulho no Universo)

terça-feira, janeiro 24

futuro(s)

Quando deixares de ouvir o futuro a borbulhar adivinhares, foi porque te perdeste-agrilhoado no passado e definhaste no presente…

In " Apontamentos para um manual da serenidade " ( ou como nunca devemos transformar o amanhã no hoje, para não perdermos o espanto de nos maravilharmos com os instantes do absurdo que nos reservam os futuros)

segunda-feira, janeiro 23

sem margens

no mar que me navega não há margens,
só olhares para diante,
sempre,
em qualquer dos lados,
em qualquer viagem,
como um naufragado,
abraçado pelo horizonte...

sexta-feira, janeiro 20

entulho(s)

sou,
entulho-do-tempo,
folha-de-outono-de-lugar-incerto
pó-de-sol,
nuvem-seca,
vagabundo-do-deserto,
varrido para um canto
como cinzas-de-mar,
cansadas do desencanto,
de já não sentir o sonhar…
sou,
grão-de-saudade,
pólen-de-onda,
que já não sabe ser,
que perdeu a vaidade,
de se maravilhar,
com um simples olhar,
de-menino-em-liberdade…
sou,
eterno-caminhante
árvore-sem-idade
sem raizes
para navegar…

quinta-feira, janeiro 19

paleta, sem cor-de-guitarra

respirei,
dia-todo,
melodia de guitarra que penetrou na alma, como quem se esconde-do-mundo…(não deve existir poesia mais suave do que aquela que se sente sem letras nem palavras e se entranha em respirares, num sonho que nos acalma e nos acorda em alentos ternos, como afagos de amor que se desenham lentos em passeares de mão-de-mãe-sobre-a-cabeça-de-filho-enroscado-em-regaço, protegido)
respirei
dia-todo,
melodia de guitarra que me abraçou em versos que não sei…
parecia sussurros de papoilas-entre-searas-ao-vento em quadro que não pintei ( isto de não ter cor de guitarra é cousa que não se perdoa a ninguém…)

quarta-feira, janeiro 18

querer ser, e crer

não queira eu
ser
mais que eu-próprio
mas,
ser-me,
escondido-por-inteiro,
nos olhos de menino
que sonha,
ser
cavalo-marinho, abraçado em ondas-de-azul-horizonte,
desenhado,
sem papel
ou
pergaminho,
fabricado,
não
em pele
ou
papiro,
mas em lágrimas de fada-sininho,
e
sedas,
em cor-de-sol-quando-se-deita-baixinho…

terça-feira, janeiro 17

ainda as dúvidas...

vezes,
muitas,
pergunto-me o que escondo por-de-trás-do-eu, que me ensombra o existir e me aparta os passos…
pergunto ao reflexo incolor do sentir por onde vou na escuridão do ir e do agir…
sei que cada qual tem uma só sombra (por dia) e que é o eu-de-cada-um que a move,
mas,
o
que me pergunto, é se ( no meu dia e no meu caso) é a sombra que me empurra os passos, ou se são estes que a transportam…

sexta-feira, janeiro 13

sementeira(s)

Andei a semear borboletas, nos olhos em que me fechei, para desenhar palavras que ainda não sei.
Vejo ( em esvoaços bailarinos, no interior da minha fantasia) a cor de cada uma das sementes…cousa-de-maravilhares, que não sei se direi…( torno-me animal-egoista, fobágico-de-mim, quando-me-escondo-no-olhar-transformado-em-sementeiro-de-borboletas-coloridas).
Fica no entanto, escrito, para que possas Tu, que lês o desenho, inventares a tua própria colheita ( seja ela de borboletas, pirilampos, pétalas de papoila, foguetes-de-encantar, flocos-de-neve-azuis-de-mar, ou cousas outras que esvoacem dentro de ti…não é difícil…basta sonhar…o desenho, esse aparece num instante, no ar…)

quinta-feira, janeiro 12

o peso exacto de um sonho

coloquei na balança todo o meu sonho. todo. de vez só, como quem quer quantificar o sentir…

media o  peso preciso de  um azul-mar-em hora-de-gaivota-pousar-no-solmedia o peso exacto da gaivota que ao pousar no sol, o esconde para de lá do dia!

quarta-feira, janeiro 11

no olhar de um alguém

( fotografia de Patrícia Sucena Almeida )


Encontrei um anjo-sem-asas, ( pedra esculpida, branca,,,alada) a sorrir cheio de respostas e de olhares…

porque te sorris, de vontade-colorida, se perdeste o voar?”, pergunto pintado-de-curiosidades-no-limite-do-espanto…

porque aprendi a dar passos e a sentir o chão-do-meu-caminho! Sorrio,,, porque mergulho na descoberta, e nela, envolvo-me em liberdade!”

…ou como a Liberdade ( ou emoção qualquer) está em cada qual e depende do olhar de cada um…

In” apontamentos para um manual de um pintor que procura coisas outras para desenhar, a alma da cor , ou em alternativa a sua própria serenidade

terça-feira, janeiro 10

o túnel...( ou a estrela? ou cousa outra só minha?)

olhei estrela que me espreitava, atrevida. imaginei-a  o “olho-de-fim-de-túnel” de uma ventura só minha…ah! as histórias que tinha para de-lá,… quando a lua deixa de ser pequenina e o túnel já lá não está … ah…!( este “ah!” é um desenho do silêncio de quem se maravilha com o sonho que lhe vive na alma…)

segunda-feira, janeiro 9

Há tanto tempo, que o sinto hoje

Conheci um  menino que desde que se soube passear no desenho, pintava flores. Todos os dias uma flor, cada qual com a sua cor, ( azul-sorriso, vermelho-rosea-de-fada-menina-envergonhada, verde-aventura, amarelo-de-sol-em dia-de-visita-de-abelhas, e tantas outras cores-só-dele, para as flores, só dele). Era como se desenhasse o seu caminho, para o não esquecer nunca e o marcar sempre com NOVIDADE!
Dia houve que não se conteve no grito e pintou um corvo. Negro-de-bico-amarelo.
E
todos se puseram a olhar o corvo e a tentar ver, naquela coisa escura-alada, uma flor.
Mas,
o que o menino tinha nos olhos era um corvo-negro-de-bico-amarelo, negro-da-cor-de-um-grito, muito longe se ser uma flor, que flor não grita, perfuma-se de cores-outras…
E
no entanto quer a flor, ou o corvo andaram lado a lado no existir dos olhos que os desenharam, mas cada qual com o seu nome ,
E
não fora, por o menino pintar um corvo, que o incomodava no grito, que desaprendera de pintar flores, mas o seu caminho, agora, provavelmente era outro…

o primeiro, poema

o meu primeiro poema ( soma de letras que desenham um sentir), não o escrevi!
gritei-O, de olhos estendidos para o diante...como quem expulsa a liberdade que não cabe dentro de si...

quinta-feira, janeiro 5

Procurei um lugar...

Procurei um lugar para escrever palavras engasgadas.
Procurei de passos lentos na cidade grande, um lugar. Procurei raízes, minhas para me libertar das letras e da humanidade. Fui de sentido, nos passos que me dei, ao Miradouro de S. Pedro de Alcântara. Queria horizonte pintado de telhados,
de cidade,
de casas,
porque debaixo de cada um dos telhados vermelhos, vivem pedaços da humanidade, e é ela que me incomoda, que me pesa nas palavras.
Fui de passos meus, mas estava em obras. O lugar, O jardim, O horizonte, É natural. Tudo está em obras. Até a humanidade, é obra-fechada-ausente-de-olhares.
Desci a rua da Trindade, ainda por entre raízes, minhas, à procura de horizontes. Espreitei o Tejo, mas acabei os passos na Brasileira. Sinto-me bem junto de poetas-fantasma, sobretudo quando sinto todo o peso da humanidade nas letras que se soltam quase-rio.
O sol está frio. Ainda bem. Preciso de frio, não vá o senti transmutar-se em lágrima, ou grito. Assim, finjo-me fantasma, forma neutra de estar na vida. Um quase-não-estar, é como estou hoje. Estou preenchido com-um-não-estar-inteiro-no-eu.
Quero escrever…sobre África.
Não sei razão porque evoco sempre Africa quando sinto a humanidade inteira na minha indignação.
Procuro as palavras, como garimpeiro.
Procuro as palavras que se embrulham em grasnares-de-aflição, em rugidos surdos, em turbilhão .
(estou rodeado de estranhos que se falam todas as línguas, menos a de Pessoa, mas é ele que os junta. Isto nada tem a ver com o sentido do escrito, só com o local. São palavras outras que soam entre sabores de café. São no fundo intervalos do sentir. Palavras que se escapam, para me iludir…)
Procuro palavras. Uma só palavra. Uma palavra-rolha que solte tudo o que me pesa…
Olho à volta…vejo pombas ( pombas da cidade, são coisa outra. Também elas perderam o horizonte) e olhos. Muitos ( uns e outros, esvoaçam em passos, no chão…sem voares, deve ser do peso…da humanidade em cada uma delas).
Distraio-me. Olho mulher de meia-idade que me fixa a escrita. Tem olhos de mar e cabelo-névoa. Acaricia um livro-fechado.
Afinal não me fixa.
Está ausente.vagabunda-de-aventuras, ou, como eu, na meia-idade, procura palavras. dela…

O dia está frio. ainda bem.
Volto a África e vez outra me perco. Não consigo pensar em País algum quando me encontro com África. Visualizo um continente inteiro.
Um só.
Talvez por ser berço do Homem. Por isso quando A penso, quando A olho com o sentir, junto-me a toda a humanidade.
Quero falar de solidariedade. É esse o meu grito.
Quero falar de imagens. Das imagens que nos entram casa-dentro e que nos comovem…lembro o tsunami a entrar todo ele na sala quente, de um Natal outro. Lembro imagens atrás de imagens, dias após dia. Lembro a humanidade inteira a mobilizar-se para ajudar, naqueles dias, os dias das imagens. Lembro o Ocidente incomodado pelas suas mortes no Oriente. Relatos e mais relatos…todos com os olhos para diante, em lágrimas. Depois destas, vieram outras imagens. Estas foram, como vieram. Outras entraram, de França, de uma França em tumulto, de uma humanidade de subúrbios em alarme.
Anos após ano inundam-nos lágrimas de imagens.
Consumimos imagens, consumimos sentires, guardamos gritos, guardamos lágrimas. Reagimos e (des) agimos ao sabor das imagens que nos marionetam a solidariedade.
Só existe o instante de cada imagem, doseada a contento e dirigida a contento, instantes após instante. Depois tudo se esquece, se apaga, como se o Mundo se estagnasse, se suspendesse. À espera das próximas imagens.
Lembro, Terramoto no Irão, Furacão Katrina, e tantas outras catástrofes que nos mobilizaram o sentir e os actos solidários. Em lentidão de consciência, agimos, com lágrimas, (des) agimos nos gestos , quais marionetas de teatro ao som de imagens, ao som de placas que nos induzem o sentir;
“CHOREM!” e choramos!
“Riam!” e rimos!
“Aplaudir agora!” e aplaudimos, frenéticos do existir…
Está frio! Ainda bem.
O sol está frio, como eu, como as pessoas que me passam ao lado, esquecidas do Natal, do Katrina, das imagens…
E as outras imagens?
As que não vimos?
As que já vimos e já não mostram?
Onde se esconde esse sentir?
Esse agir?
A fome continua ali no Uganda, no Senegal, em Moçambique, nos pingos de África que já não choram.
Ela ali está! Fria! Presente! Os dias todos, dias após dia. Mas os meninos que choram são todos iguais, tão iguais que se confundem nas imagens. Imagens iguais cansam, não se vêem, Não nos solidarizam!
Somos mais facilmente tocados por uma catástrofe natural do que por aquela que nós próprios provocamos, com os nossos actos e com a nossa indiferença…
Não sei em que sociedade vivo!
Não sei que sociedade crio!
Não sei em que sociedade me existo!
Sou,
eu,
também mais um que se comove com as imagens, mas que me deito e me durmo, como tudo se passasse nas imagens de um teatro humano.
Hoje grito no meu silêncio, porque também eu, carrego hoje, todo o peso da humanidade, como se não lhe pertencesse na DOR!
Está frio! Ainda bem! Não fora o Tejo que se esconde ao fundo ( e que não me é imagem agora) e diria que nele correm todas as minhas lágrimas que se engasgaram neste frio-de-inverno-de-uma-humanidade-que-já-não-grita!
Procuro palavras. Não sei palavras. Muito menos poesia! Apenas oiço em ecos a voz do poeta-inconformado ( fantasma ou não)…
Eu, apenas escrevo mais uma página, deste meu diário, deste meu sentir partilhado, que rasgo de mim e o esvoaço ....



É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
DAR NOTICIA, INFORMAR, PREVENIR
QUE POR CADA FLOR ESTRANGULADA
HÁ MILHÕES DE SEMENTES A FLORIR.



É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
SEGREGAR A PALAVRA E A SENHA
ENGROSSAR A VERDADE CORRENTE
DE UMA FORÇA QUE NADA DETENHA




É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
QUE HÁ FOGO NO MEIO DA FLORESTA
E QUE OS MORTOS APONTAM EM FRENTE
O CAMINHO DA ESPERANÇA QUE RESTA






É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
TRANSMITINDO ESTE MORSE DE DORES
É PRECISO, IMPERIOSO E URGENTE
MAIS FLORES, MAIS FLORES, MAIS FLORES.


( poema de João Apolinário e fotografias de Sebastião Salgado)


Nota: agradeço a Manuel Garrinhas e à Manuela que me relembraram poema que quase-tinha-esquecido

no deserto do ver

(des) seguro-me do movimento,
onde,
pêndulo-o-olhar
quedo-me,
inquieto,
em
q
u
e
d
a
que vivo
em
balão-de-menino,
colorido
e
dou
nome-ás-estrelas,
num
voo-de-águia
em
cores-de magnólia
velado
em
areias-tuaregues
onde,
navego
perdido

quarta-feira, janeiro 4

tatuagem

subi-de-asas à montanha, como quem desce ao abimo-do-sentir,
e
deixei que o vento me tocasse a alma,
em tatuagem,
selvagem de mim

segunda-feira, janeiro 2

vestir o dia

deixei cair uma folha ,
vermelho-sangue,
de
outono…
pousou-morta ( a folha? a dor? ),
em silêncio,
sem lágrima…
só,
ali,
no chão,
perto-de-mim…
vesti-me da sua cor,
e
caí…

papagaios-de-papel

sopro o pensamento,
em
nuvens-de-olhar
qual,
papagaio-de-papel,
abraçado-no-sonhar,
voam,
suaves…
cada-qual,
pétalas-de-papoila
a planar…
um,
é borboleta,
outro,
qualquer-letra
mas
aquele ali,
que se esconde no alto,
quase-nuvem,
quase-onda
sou eu,
inteiro
a-navegar…

domingo, janeiro 1

o vitral

desenhei um vitral,
na água...

nem azul, nem verde,

um vitral,

com deuses
e
meninos,
a brincar
com o sol
que se gotinhava,
no rio
em cores de brilhar…

desenhei um vitral,
nas lágrimas
sem sal
no frio.

tinha, ( o desenho)
um homem
pequenino
( não fora ele,
menino…)

a rezar,
sozinho…

( os deuses,
esses,
estavam no vitral
a ouvir,
o menino
),

e

o rio,
ia,
corria,
sem saber do vitral
que arrastava
desenhado na pele
com as cores do natal.

não!
os deuses não se enganaram,
nem se distraíram,

nem o rio,

eu,
é que desenhei
o que sentia,
encantado,
com o que via…

porque a tranformação não tem nome, nem hora

Primeiro, pensei, com a sinceridade do instante que era o Fim, de um olhar, de um caminho, mas ( no final) o caminho não o tem, (Como um fio...