domingo, abril 30

quando o título* atrapalha mais vale por nenhum

Todos os poetas são surrealistas! Mesmo aqueles que escrevem de cócoras a abanarem o rabo, com versejares de ventos e mar...

* no original lia-se tutulo ( o autor estáva de lua...ou de cócoras)

sexta-feira, abril 28

em pedra

Deito-me nas pedras, que cantam a voz do vento,
nos silêncios.
Abraça-me uma solidão inteira, do tamanho de um dia que não passa.
É um dia-pedra.
Imóvel,
surdo de noite-deserto…
Só as águas das árvores se ouvem-de-vida…

quarta-feira, abril 26

acordares

Acordei decidido ( hoje) de aventura…
Lancei uma corda E-N-O-R-M-E até ao umbigo do Universo e fui, em devagares (meus) com um sonho () e fui…( como gosto desta palavra tão próxima do ir…)

segunda-feira, abril 24

prazeres de silencio

Absorvo o prazer que o silêncio me impõe e deixo que o existir me empurre na inércia de me esconder das cores e de me permanecer na noite, em osmose de mim


me=muito egocentrico

quinta-feira, abril 20

um pequeno nada

Ocorre-me, um NADA,
Pequeno (como o são todos),
Quase lilás-papoila ( cor de papoila triste ao fim do dia, antes de fechar e sem vontade de dar boas noites, ás amigas que resolveram não se deitar porque vão ao baile ás escondidas…de quem? não se sabe, é quase um nada, quase mistérios, mas estes mesmo sendo um nada, por vezes são grandes, porque desconhecidos…),
e
não sei o que faça com ele ( o NADA).
Desfaço-o
e
pronto!
Desenlaço de vez ( unica) este vazio que me tropeça na sombra e viro o dia![ como andam emperrados estes dias desnascidos sem cor, a pintar a primavera num embaraço (de um azul-quente-de-sol) desfeito…]
O horizonte ( de longe) foi abraçado por montanha*. Gigante. Aqui perto…num quase NADA. Pequeno…com sabor a água-de-nevoeiro-a-fingir-se-céu...

*avisto o Marão desta janela pequena ( quase um nada)

quarta-feira, abril 19

ausente

Estou ausente, não sei de onde, mas ando por aí, sem procura, sem pousar sequer na sombra, como quem se guarda numa gaveta, ou simplesmente se transforma em nuvem.
Ando de olhos-espelho, numa espécie de jogo de devolver a vida ( sem demasiada força, ao de leve, não fora ela ficar longe do alcance do horizonte).
Ando por aí em passos lentos, só meus, a respirar o universo…

quinta-feira, abril 13

desenrolar o dia

O dia apareceu a espreitar, assustado. Frio. Despido de sonhos…guardei-o no bolso e na tarde enrolei-o qual cordel e lancei-o longe a rodopiar-pião nas margens do começar…

quarta-feira, abril 12

à procura de resposta

Perguntaram-me se “ouvia o sol…”
( assim, tal qual, com a admiração toda na voz, "Tu, não ouves o Sol? ")
Fiquei a mastigar resposta, intrigado por andar desatento.
Para O ouvir, era mais fácil se tivesse nascido flor-qualquer … (elas o-u-v-e-m o S-o-l… disse-me em segredo, e escondida da noite, uma gira-lua…)
eu,
ainda não descobri o som de cada cor...

terça-feira, abril 11

respirares

O mais belo poema é aquele que se liberta da palavra. Quando se escreve “flor” a poesia não está na palavra, nem no desenho, está inteira no existir…no respirar da cor que se torna única em cada instante em que se vive…

quinta-feira, abril 6

os acasos que me escrevem os dedos

O acaso envolve-me. Teima em escrever sem sentido, palavras soltas que me fogem sem me serem minhas. Deixo deslizar o aparo apenas com a curiosidade de saber qual a forma e lugar que elas (palavras) tomam nas fronteiras da alma. Deixo que aconteçam, como se fosse possuído por um destino que não me pertence. Senhor de um mundo de absurdos em cinzas e negros…
ah, fossem (só) azuis as palavras que me escrevem os dedos e eu era um mar de cores a pintar uma seara de girassóis a brincar com sombras de saltimbancos, a fazer vénias aos ventos alísios  

quarta-feira, abril 5

subir aos azuis

em menino subia às árvores ( num impulso quase selvagem, animal…),
lá,
depois de todos os verdes
o céu era inteiro de azuis,
eu,
uma formiga a fingir-se gigante…

terça-feira, abril 4

pressas justificadas

Hoje saí apressado, sem bons dias, nem meios-nadas.
Fui.
Decidido, a correr para o futuro , antes que ele me acontecesse…

segunda-feira, abril 3

escaladas

Andei a escalar as memórias. (Há dias assim, que imobilizados no sentir, viajamos no espaço á procura de pequenos nadas que nos dêem sentido e cor aos dias em que nos sentimos difusos no existir...)
Dei com a descoberta dos dias em que passeávamos em família de carro ( vezes muitas apenas por aí, sem objectivos de chegada, apenas com a vontade de ir). Viajávamos o Ver (num Simca branco com uns faróis a imitar olhos em desorbita... ).
Oiço, quase nítido, a voz do Pai ( com a ansiedade toda de um instante que não se pode perder) dizer imperativo " Abram as Janelas!"
Aquele momento transformava-se num mundo mágico em que os cheiros de toda a serra ( árvores, terra, aves, formigas e coisas outras que tais) nos abraçavam a pele e os sentidos, à velocidade de um sorriso de uma família inteira a passear-se num velho carro com olhos esbugalhados...
Hoje, pergunto-me ( nesta inércia de dias que passam sem existir) porque não saíamos do carro e entravamos na serra, para nos deixarmos abraçar por ela própria ( sem a velocidade de um ir)?
Devia ser ( certamente o era) da pressa de chegarmos cedo a lugar nenhum ( cousas de vida moderna...)

porque a tranformação não tem nome, nem hora

Primeiro, pensei, com a sinceridade do instante que era o Fim, de um olhar, de um caminho, mas ( no final) o caminho não o tem, (Como um fio...