domingo, outubro 15

quero

Não te sei nome, nem história, vagueias por aí no silêncio de um grito. Conheço-te na angústia da dor que não se ouve. Na verdade não tens nome, porque nome nasce na família e, se a tiveste, perdeste-a no silêncio do teu grito. Queria saber o teu nome. Temos o hábito animal de só chorarmos os nossos, e só os nossos tem nome e rosto, só os nossos não são número, e os números não causam dor. Só os grandes números incomodam, mas gritam em silêncio, e tu és apenas um, e não tens sequer rosto. Já ninguém vê o olhar que escondes na sombra do Mundo. Quero saber o teu nome, e os outros todos que o não tem. Quero olhar os teus olhos e todos os outros que já não tem lágrimas. Quero-o saber porque sou animal, e os animais só choram os que lhe são próximos.

Resposta em silêncio ao alquimista
e à Betty

fotografia original de Finbarr O'Reilly ( esta foto foi alterada por mim sem autorização do autor, o original, sem desfocagem será resposto caso o autor, ou quem o represente assim o manifestar)

8 comentários:

Madalena disse...

Oh, Almaro!

E que foto...!*

Mikas disse...

A semana está no fim e outra começa, resto de bom domingo

Fragmentos Betty Martins disse...

Querido Almaro

Que julgais que a minha voz há de secar um dia finalmente no leito pedregoso dos meus lábios,

Escutai o som metálico do látego violento das minhas palavras libertas de grilhões nos pés!

Pode a brisa deixar de ouvir meu rude canto,

Pode o vento esconder-se nas furnas da solidão eterna quando eu erguer a voz aureolada de lágrimas ao infinito,

Podem os regatos parar bruscamente a serenata nervosa e pura das suas águas,

Podem as montanhas ruir estrondosamente a sufocar meu grito,

Podem até os Céus deixarem de descer à Terra para ouvirem o badalar sonoro da minha angústia,

Que eu cantarei ainda!... Que eu cantarei em ritmo desenfreado de avalanche de mundos em labaredas!...

Vós, ó sombras apagadas para sempre nesta hora de ranger os dentes e de imprecações recalcadas,

Podeis aprisionar todos os pássaros de voz de fogo na férrea gaiola do esquecimento,

Podeis até amordaçar cruelmente as bocas dos grandes ideais,

Que eu cantarei ainda... porque o meu canto rebentará a golpes de silêncio as próprias fronteiras da morte! ...

(Albuquerque Freire)

Um beijo

Maria Alfacinha disse...

(...)

almaro disse...

madalena: sim a foto, grita sozinha, e deixa-nos , a nós que a VEMOS, sem palavras,,,vazios na dor que permanece...

almaro disse...

mikas: uma boa semana para ti, onde cada dia seja descoberta, para que afinal, cada recomeço tenha o segredo do sorriso, porque cada passo no Novo, o provoca...

almaro disse...

betty: tenho dias ( muitos) em que a vontade continua de gritar, de ir , se perdem no desespero da impotência de um silêncio. tenho dias ( muitos) em que sinto que quem ouve os gritos, são apenas aqueles que gritam. Não encontrei ainda forma de fazer Ver um cego...
mas vezes há em que a força de um grito me move os passos...nesses dias sinto fazer parte de um exercito...
"Quando mergulho na realidade, sinto a revolta de ter andado fugido no sonho e não ter agido, em sons de luta e juntar-me aos guerrilheiros da Humanidade.
Eles andam por aí fardados em exercito sem nome a distribuir afectos e a criar o Homem Novo. (8/9/2003 em aguarelas escritas)"

almaro disse...

maria alfacinha: é exactamente esse nó de grito sem som que sinto colado nos olhos(...)

porque a tranformação não tem nome, nem hora

Primeiro, pensei, com a sinceridade do instante que era o Fim, de um olhar, de um caminho, mas ( no final) o caminho não o tem, (Como um fio...