sábado, novembro 18

a transmutação de uma perda, no vento que a abraça

Apetece-me parar. Não o tempo, nem os passos. Parar. Sentar-me na sombra e sentir o vento. Ouvir o vento. Só parado o oiço, na lentidão dos vazios. Quebrou-se em mim a magia da criança que andava por aí escondida, inquieta. Sem ela perdi o sentido e as cores da fantasia. Sinto a traição de mim a abraçar-me o olhar. Pedaços quebrados do que vivi no desencontro dos meus silêncios. O vento, transporta-me para o Universo, liberta-me do que não sou, transforma-me no que sou. Não sei quando volto. O importante, no hoje, no agora que me prende, é decidir. Sem lamentos nem angustias. Sei que aqui sentado junto ao vento, me movimento.
É esse movimento que me persegue, como se a vida mudasse de rumo sem eu ter dado conta, inebriado pela criança revolta de entusiasmos que me contemplava os passos. Tive vários desmomentos destes, na vida que me traçou o passado, próximos de um réptil que muda de pele.
Sou hoje, mais próximo de uma pedra, que parada sente o mundo sem o procurar descobrir…
Descobrir implica vontade, impõe uma disciplina de descodificação da vida, para a qual perdi a vontade de ir.
Cada passo que dei, esvaziou-me o sentir, pela intensidade de o viver. O corpo cansou-se e a memória perdeu-se no desencanto da cor.
Decidir parar, é um passo lúcido e irreverente.
Oiço a respiração do Universo, deste ponto em que cansado me sentei a dormir de sentires…
Há momentos em que sentimos uma necessidade vital de nos libertarmos de nós próprios, de um eu que nos prende o olhar, que nos desfocaliza o ego e, distraídos nos deixamos esvaziar do mundo.
Tenho sede de não me ser. Tenho fome de me libertar do meu eterno desassossego.
Estranho este dessentir, este imobilismo de me ser., mas aqui, sentado em pedra, fogo arrefecido, oiço o vento, na pele que se despinta de mim…
Hoje é um dia inteiro sem tempo…

2 comentários:

almaro disse...

nani: e conheces alguém que não se esconda para mudar de pele???

almaro disse...

nani: nestes casos de mudança de pele, diria que se fica em alma-viva...
na natureza ( que somos,,,também)mesmo que a transmutação seja lenta, é sempre num único instante que se dá a mudança inteira, é esse instante que procuro no vento, em hibernação de mim...

porque a tranformação não tem nome, nem hora

Primeiro, pensei, com a sinceridade do instante que era o Fim, de um olhar, de um caminho, mas ( no final) o caminho não o tem, (Como um fio...